A adaptação polêmica de Aku no Hana


Olá, meus caros. Trago-lhes, hoje, mais uma crítica, desta vez, com a obra Aku no Hana, comparando o material original com a adaptação para animação que desagradou a maioria dos fãs, pelo seu formato meio... "único". Muitos de vocês devem conhecê-lo pela variedade de memes, na época de 2013, com as bizarras faces dos personagens. O anime foi abandonado e escarnecido, enquanto o seu mangá, com uma história aclamada, foi manchado junto com a reputação do autor. Bem, continuarei abordando os pontos abaixo. Sintam-se livres para comentar as suas opiniões. Só para deixar claro, obviamente há spoilers.


Sinopse.


A história começa focando no cotidiano de Kasuga Takao, um simples colegial que ama ler livros estranhos por influência do pai, sendo seu favorito, Baudelaire Les Fleurs du Mal. Ele vive seus dias normalmente, sempre observando Saeki Nanako, a popular da sala, considerada uma musa pura, sem defeitos e, literalmente, sua Vênus. Em um dia, após o fim da aula, Takao resolve voltar à sala sozinho para buscar sua amada cópia de Les Fleurs du Mal que tinha esquecido. Chegando no local, ele se depara com o uniforme de educação física de Saeki e, em um ato imprudente, resolve levá-lo para casa, após ouvir alguns ruídos que poderiam levantar suspeitas. O roubo do uniforme se torna caso pela escola e todos estão à procura do tal pervertido. Enquanto isso, Takao está sendo sufocado com o peso da culpa e do medo de ser descoberto. A situação só piora quando Nakamura, a garota estranha e agressiva da sala, começa a persegui-lo, pois tinha presenciado toda a cena do roubo. Em vez de revelar a todos o verdadeiro culpado, a excêntrica garota resolve importunar o protagonista com missões e desafios, como admiração pelo "espírito pervertido" dele. Assim, Takao se submete aos tratamentos de Nakamura, dando uma repaginada em sua vida.


Personagens.


Os principais são desgraciosos, enigmáticos e excêntricos, em sua fase complexa da puberdade, sempre sujeitos a transições. Desagradáveis, literalmente, pois têm defeitos de caráter profundos que mantém uma grande influência em suas ações. Alguns são loucos, beirando a psicopatia, deixando de lado conceitos básicos da humanidade. Todos passam por casos, de certo modo, perturbadores e vergonhosos, porém, são essas condições que auxiliam em seus desenvolvimentos e superações no decorrer dos arcos. A caracterização dos personagens, com suas personalidades marcantes, é o ponto forte da obra, trazendo um entendimento maior ao legente, por sua integridade com a existência do público alvo. Tanto pelos pensamentos levianos ou fúteis, melhor dizendo, quanto pelas atitudes inconsequentes, que na maior parte dos casos, todos nós estamos submetidos acometer.


➛ Kasuga Takao.


Um garoto simplório, entediado e introvertido, aparentemente não anormal, que cultiva sua singularidade em seus livros por não conseguir encaixar-se no meio social da sua turma, somente superficialmente. Mantém o pensamento de superioridade por ninguém compreender o seu gosto pela leitura. Quando assume o contrato com Nakamura, não gosta das reuniões e dos pedidos incomuns da solitária garota, o fazendo comportar-se cautelosamente. Porém, após um tempo, Takao entende a visão distorcida de Sawa a respeito do mundo, misturado a um afeto descomunal por ela. No final do primeiro arco do mangá (no anime foi adaptado só o começo desta transformação), o menino já está totalmente influenciado pela ideia de descontentamento pela cidade natal e todos seus habitantes, incluindo até seus pais. Assim, observamos na íntegra, a árdua vida de Takao, um poeta moderno que precisa experimentar o sofrimento, a dor e luxúria para conseguir uma reflexão sobre o coletivo e a liberdade real, no entanto, desconstruindo lentamente o personagem durante este período até tornar-se uma aberração social. O ângulo do leitor em relação a Kasuga, é de um garoto derrubando as próprias barreiras impostas, que transparece a verdadeira personalidade dele. Resumidamente, o protagonista, na adolescência, demonstra um lado totalmente louco, após as frequentes insinuações de Nakamura. Na segunda parte do mangá, é possível também observar sua sensatez crescendo vagarosamente, junto aos arrependimentos e novos rumos tomados pelo seu eu adulto.


➛ Sawa Nakamura.


Colega de classe de Takao e a personificação da "flor do mal", justo ao simbolismo por trás do ícone macabro da obra, uma verdadeira anarquista pervertida. Nakamura impulsiona toda a trama, sendo Kasuga um personagem manipulado por ela na maioria das passagens. Agressiva, isolada e com claros distúrbios, Sawa demostra uma personalidade apática e hostil, embora mantenha um comportamento sano. A jovem demostra, ocasionalmente, picos emocionais exorbitantes e insanos, quando se expressa para Takao. No decorrer da história, desde a tentativa de suicídio dos dois jovens, Nakamura, com uma certa maturidade, obteve uma autorreflexão sobre seus próprios atos ao ponto de esquecê-los ou não querer explorá-los.


➛ Saeki Nanako.


A musa do protagonista, uma menina inteligente, popular e graciosa, sempre admirada por todos ao seu redor. De modo geral, a imagem perfeita de um ídolo japonês. Após o roubo de suas roupas íntimas, Saeki se abala como qualquer outra pessoa, porém, mais a fundo, seu lado atingido pela "flor do mal" também é explorado. Começa a namorar, por poucos capítulos, o protagonista e, com isso, sua ideia de perfeição acaba sendo manchada na perspectiva dele. Achei uma boa desestruturação de personagem, demonstrando completa dependência mesclada a uma carência descomunal de querer ser desejada. Quando Takao recusa permanecer ao seu lado, dando preferência a Sawa, proporciona um forte abalo emocional em Nanako, em que a moça chega a oferecer-se de todas as maneiras ao ex-namorado, deixando como consequência sequelas em sua juventude. No entanto, como a maioria, ela conseguiu dar a volta por cima, seguindo seu caminho.


Análise.

Uma obra com uma sinopse totalmente diferenciada, que já induz a criar hipóteses e teorias de para onde caminha este tipo de trama. Afinal, com essa premissa, é comum esperar algo completamente novo ou mais um seguindo a linhagem genérica. Porém, ele consegue surpreender, simplesmente por ter algo a mais, tendo uma base sólida do enredo geral. Sua história é toda forjada com o intuito de simular a visão de um adolescente em sua vida monótona, junto com o desejo de liberdade ou fazer algo que para todos seria considerado "pervertido". No livro de poemas de Takao, Les Fleurs du Mal, carregava imagens de um povo insalubre, mergulhado no erotismo e amarrado em vícios que, no geral, chegava a ofender completamente a ética dos bons costumes e, por esse motivo, foi tirado de circulação, além de ser duramente criticado pela burguesia contemporânea. O conto pode ser interpretado como reflexo da vida imoral do autor Baudelaire, com algumas pitadas da experiência pessoal de Oshimi, transmitindo a concepção de imoralidade para a população japonesa em um drama fictício perpassado em uma essência subversiva. Esse mangá consegue passar esta visão junto com um olhar equilibrado dos próprios personagens principais, no decorrer da história, observando suas ações passadas inconsequentes. Em regra, tem o objetivo claro de repassar o lado podre das pessoas, incluindo as mais calmas, que só precisam de um incentivo ou pressão para se renderem ao "lado negro". Posso dizer que Aku no Hana é singular. Toda a série é focada no drama psicológico, passando a vida dos personagens por completo; suas evoluções, pensamentos e mudanças de objetivos. É possível compreendê-los, mesmo não concordando com suas atitudes ou até criando um sentimento de ódio por eles.


Mangá.


Contando com influências artísticas de Odilon Redon e Goya em suas ilustrações, Oshimi descreve a sua obra como "retratando a autoconsciência obscura e o lado escuro da juventude com uma intensidade surpreendente". Aku no Hana teve tanto apreço e cuidado pelo autor, que obteve referências do cotidiano do próprio tanto na ambientação quanto no comportamento dos personagens. Um fato curioso é que Nakamura se baseia nas pessoas que costumavam despreciar os objetos de Shūzo, enquanto um amigo de Takao, Hiruta, representou um colega da escola secundária do artista, que o traiu para juntar-se aos bullies da classe. Entre os japoneses, o mangá alcançou o topo dos mais vendidos das semanas, chegando o volume nove vender mais de dois milhões de cópias. Também permaneceu entre o décimo oitavo lugar entre os "Top 20" para o público com preferência a shounen do guia Kono Manga ga Sugoi!. Seu sucesso alcançou o The New York Times Manga Best Sellers em duas ocasiões distintas, até a obra ser nomeada para o quinto prêmio Manga Taisho.


➛ Pontos negativos.

• Timeskip parado.


A alteração de tom de Aku no Hana, na metade do mangá, é de extrema importância para o progresso de raciocínio e abandono do passado dos personagens. Porém, houve uma concentração extrema em Takao tentando adaptar-se em seu novo mundo, em que ele parece totalmente deslocado e avoado. A dinâmica da história funcionava, em especial, na conivência entre Nakamura e o principal masculino. Quando limitou somente a Kasuga, sem sua auto-versão para equilibrar o contexto, acabou desgastando a leitura focada em um protagonista enfadonho. Posso chamar de insano, como o autor estabeleceu o "timeskip" no clímax da primeira parte do mangá e teletransporta o leitor para a um cotidiano tedioso de um colegial no ensino médio. Talvez Oshimi tenha ressaltado um ponto que todas as escolhas possuem consequências.


• Névoa de subjetividade.


O autor consegue reviravoltas e decepções em vários aspectos no enredo, mesmo que isso incentive a leitura. Porém, o fator da implementação de poesia na trama faz o legente tirar suas próprias conclusões a respeito de certos acontecimentos e atitudes dos personagens, até a simbologia e metalinguagem utilizadas. Não considero isso, totalmente, um ponto negativo fazer o leitor raciocinar a respeito, mas essa falta de informações traz um público seletivo ao mangá e difícil de simpatizar com a narrativa. Essa característica faz Aku no Hana ser uma leitura de alto nível que precisa de um leitor experiente com algum conhecimento de literatura para ser plenamente apreciado.


➛ Pontos positivos.


• Traços.


Traços simples, porém, cativantes e miraculosos, cenas que mostram de forma abstrata os verdadeiros pensamentos e situações desastrosas dos personagens, como dito anteriormente, uma grande influência de alguns artistas. De forma bela e exagerada, algumas vezes chegando a ser polêmica, Shūzō passa todos os seus sentimentos em seus trabalhos de uma forma nítida e, para alguns, pouco compreendida. Seu jeito único de repassar as emoções, com suas verdadeiras obras de arte ocupando duas páginas inteiras no mangá, o artista não mede esforços para se sentir realizado.


• Desenvolvimento.


Desde o início, os protagonistas estão destinados a repensarem a respeito de suas ideologias e comportamentos, fazendo, literalmente, uma fusão de influências e fases entre o elenco. O início inocente, com a perversão unilateral do lado de Nakamura, até o desabrochar da flor, captando todos com o ar devasso e descontrolado. Mesmo criticando o modo lento que o "timeskip" tenha se estabelecido, como anteriormente, ele foi essencial para a evolução dos personagens e seu desapego com suas atitudes catastróficas na puberdade, onde só depois de um nível de maturidade adquirido eles são capazes de repensar, sofrendo no processo de mudanças, porém, seguindo e conhecendo novas pessoas na sequência da vida. A introdução da Tokiwa Aya para Takao foi imprevisível para o crescimento do próprio, já que o menino, desde mais novo, possuiu uma personalidade frágil e corruptível. Quando finalmente encontrou alguém com que se identificava com o seu ideal e preenchesse o vazio deixado nos seus dias de mocidade. Nakamura e Nanako não tiveram muita aparição durante esse período, mas é interessante como elas conseguiram prosseguir mesmo com alguns problemas.


• Mensagens.


A puberdade, perversão, inexperiência e curiosidade, são representados como experiências de vida e situações momentâneas que moldam a personalidade do indivíduo e refletem nas possibilidades de futuro. A adolescência é abordada como formadora de caráter e como o período de descoberta necessário para desenvolver o espírito curioso e vivo dentro do mancebo. Mesmo com grandes polêmicas, Oshimi acredita que o desejo de mudança e liberdade de vontades são características predominantes em todos que sofrem constante repressão e preconceito. Por isso, o autor demonstra esses sentimentos humanos ocultos em seu trabalho, mostrando tanto na perspectiva masculina quanto na feminina. Existe, junto a essas lições, críticas diretamente focadas à hipocrisia da sociedade atual e as exigências de pureza envolvida com o desejo carnal. Na sociedade japonesa, tem um senso de conformidade árduo, sendo que a maioria das atitudes com efeito contrário são duramente reprimidas e contestadas, não importando a idade. A adolescência no país sofre adversidades como esta, principalmente no sistema educacional, onde a depressão, ansiedade e o bullying aumentam consideravelmente. Assim, Aku no Hana representa toda a juventude deturpada, contendo elementos culturais e a reprovação de comportamentos, junto a intimidação dos grupos sociais.


• Final fechado.


Um desfecho previsível, mas agradável aos fãs que esperavam uma finalização decente e, de certo modo, aprazível para cada personagem. Houve conclusão de problemas passados mal-resolvidos entre Nakamura e Takao, notadamente. Na minha opinião, foi um tanto superficial e saiu dos paradigmas adotados pelo autor de comprometer-se com a realidade, porém, aquele clima puro e alegre de final novelesco trouxe um sorriso no canto da boca.


Anime.


No início, o diretor estava indeciso se realizaria mesmo o controle da animação, optando por querer deixá-la o mais realista possível, porém, quando pensou na ideia de adaptá-lo com rotoscopia — uma técnica onde um modelo humano é filmado ou minuciosamente fotografado em sequência e o desenho é repassado com base nisso —, aceitou e sentiu quer era a escolha mais apropriada e digna. Com o intuito de deixar a marca e assinatura de Aku no Hana nos espectadores, Hiroshi teve trabalho suficiente nas gravações, realizadas na cidade natal de Oshimi, Kiryu, Gunma, demorando duas vezes mais que a produção de um anime comum, contando com as edições. Não lançando nenhuma arte do anime como prévia para o público, Nagahama estava certo de que sua originalidade seria controverso para os fãs do mangá, mas deixaria um impacto, como ocorreu depois da transmissão. Assim, acreditava Hans Robert Jauss, um escritor e crítico literário alemão, que o valor de uma obra não se dá por seus valores estéticos ou metafísicos, mas pela recepção diferenciada direcionada aos presenciares. O diretor tinha o apoio de Oshimi em sua decisão, acreditando que era uma visão aprofundada do enredo original, e uma modelagem tradicional não traria a atmosfera da narrativa fresca, além de focar nos atores e suas expressões, especificamente. Houve críticas tanto positivas quantos negativas, como o editor da Rede Anime News, Carl Kimlinger, que captou a mensagem da adequação genuína do diretor e a composição de Hideyuki, descrevendo como uma "deliciosamente desagradável obra-prima". Já Richard Eisenbeis de Kotaku, um blogue de videogames com público-alvo em jovens, achou os atores do elenco desconsideráveis junto com uma falta de noção nos aspectos técnicos e ausência de partituras nas músicas. Tim Jones, escrevendo para THEM Anime Reviews, posicionou-se mais moderado, assumindo que o anime era "cômico e ofensivo" com o uso da rotoscopia que trouxe um aspecto sarcástico à obra, mas elogiou a cinematografia, o desenvolvimento do grupo de produção e o diretor em repassar com exatidão a vivência no cenário de escola secundária.


➛ Pontos negativos.


• Produção visual.

╰Dos personagens, especificamente.


De longe, o ponto mais polêmico do anime é a utilização da rotoscopia, em que o peculiar diretor Hiroshi Nagahama resolve arriscar para causar um choque inicial para o público, com um aspecto visual realista e extremamente incomum, até mesmo um incômodo para olhos acostumados às liberdades tomadas pelo traço nipônico típico. Infelizmente, sua jogada foi a mais catastrófica possível, rendendo as piores vendas para Blu-Ray de todos os tempos, além de eclipsar o mangá e trazer desapontamento ao genuíno Shūzō Oshimi, manchando a sua obra mais famosa e com elementos de sua vivência pessoal. Além disso, ainda há falhas na animação causadas pelo uso de uma rotoscopia de baixa qualidade, que deixa os personagens em frequente agitação e causando um certo incômodo. Outros fatos, como os rostos totalmente brancos do elenco, dependendo da distância em que se posiciona a câmera, a deselegância do resultado quando comparado aos atores escolhidos para representar os protagonistas, o frame rate e o detalhamento relativamente simples do elenco, sem a utilização de sombras, trouxeram uma grande decepção aos fanáticos do original.


• Narrativa.


Extremamente lenta e entediante, fazendo o espectador perder totalmente o interesse antes da metade do episódio inicial. A falta de objetividade e praticidade nas passagens de eventos foi compensada com momentos parados, os quais deveriam passar a imagem de um dia calmo e comum do interior. Entendo a idealização do diretor, porém, isso é desgastante, e somente os perseverantes ou com alguma ideia sobre o mangá para continuarem a assistir.


• Final em aberto.


Deixar o desenrolar da trama, no arco específico dos últimos episódios, sem nenhuma explicação plausível foi um tremendo desleixo do diretor, mesmo com nenhuma expectativa de segunda temporada. O pensamento de trazer evidência ao mangá não é convincente, já que grande parte do público-alvo resolveu abandonar a animação, além das consideráveis baixas vendas, justificáveis pelos fatores citados previamente. Considero uma falta de consideração finalizar em um período desentendido ao espectador, como se tivessem deixado algo feito pela metade.


➛ Pontos positivos.

╰Ainda citando algumas desaprovações.


• Fiel ao material original.


Isso não podemos reclamar, afinal, todas as cenas do anime são repassadas fielmente do mangá. As expressões e os pequenos gestos, mesmo um tanto exagerados, o diretor manteve a lealdade com o primordial, tendo em mente não se submeter a uma exorbitância de momentos desnecessários, no máximo estagnados, ou inovações inconvenientes, excluindo a própria animação.


• Ambientação.


Os cenários do anime, que são muitas vezes eclipsados pela estética dos personagens simplificados, misturam um realismo com desenho, mantendo um ar charmoso para ambos os estilos. Sua ambientação deu credibilidade ao universo de Aku no Hana, tornando-o crível e próximo do público, com sua riqueza de detalhes no fundo bem desenvolvido. Mesmo tendo me decepcionado com a rotoscopia, admito que apreciei bastante o âmbito, principalmente na forma decadente descrita por Takao, que se assemelha aos temas de Baudelaire.


• Dublagem.


Outro ponto para destacar-se positivamente é a dublagem, que estranho não ser feito pelos próprios atores, mas encaixou-se muito bem pelos profissionais experientes no ramo, abrangendo até as falas dos secundários. Posso exemplificar utilizando as protagonistas Nakamura, feita por Mariya Ise, que interpretou Ringo Noyamano (Air Gear), Killua Zoldyck (Hunter x Hunter 2011) e Nagisa Kurosawa (Sukitte Ii na yo); e Nanako, dublado por Yōko Hisaka, que trabalhou como Sakura Sakurakouji (Code:Breaker), Kyouko Kirigiri (Danganronpa) e Stephanie Dora (No Game No Life).


• Trilha sonora.


Eu tive minhas dívidas de colocar esse ponto como aspecto positivo, pois gosto musical é de cada um. Porém, posso admitir que a trilha sonora é, de certa maneira, diferenciada e minimalista, escapando das convencionalidades genéricas que ditam a produção animada moderna e trazendo um clima tenebroso à obra. A abertura tem uma particularidade para cada personagem, dependendo do aprofundamento dele na história, além da semelhança do vocal aos Vocaloid, com uma letra interligada no enredo. Só a quantidade de imagens estáticas que é desanimadora. No entanto, nada se compara ao encerramento, que trouxe um suspense nos segundos iniciais, me recordando uma música macabra de invocação japonesa. Piadas à parte, posso dizer que não me decepcionaram cem por cento nesse quesito.


Comentários.


Pessoalmente, acredito que, após relatar cada aspecto da obra, tenho uma preferência ao mangá. Não gostei da animação (notável, já que a categorizei como ponto negativo), pois foi desagradável a experiência de assistir com aqueles personagens em constantes agitação na tela, sem contar a ausência de lábios que bestializaram os atores e deixaram algumas cenas, com muitas gesticulações, confusas. A minha simples pergunta é: por que não fizeram somente a live action, sem a edição para rotoscopia? Existem visões diferentes da minha, como isso foi algo surreal e impactante, somente compreendido por mentes abertas a uma obra idiossincrática como essa. Talvez eu esteja errada e não entenda algo tão vasto assim, mas só digo, modestamente, que despencou o anime. A história em si é complexa e precisa de uma certa meditação, em que o autor coloca, literalmente, o legente para pensar, afastando alguns e limitando a um grupo específico desta demografia. Agora, dificultar as coisas com uma animação peculiar como essa, além de um final aberto sem nenhuma esperança de nova temporada? Mas se o foco do diretor ou objetivo do próprio autor, que apoiou o Hiroshi, foi causar uma comoção, então eles conseguiram.


Um pouco sobre Charles Baudelaire e Les Fleurs du Mal.


Um poeta boêmio, nascido em Paris em 1821, conhecido pelo pioneirismo no simbolismo, inovador da literatura francesa e como fundador da tradição moderna. Em sua vida pessoal, possuía uma grande riqueza que recebeu de herança paterna, assim explicando sua diária despreocupada e prazerosa (em 1844, sua fortuna foi controlada por um notário, após um processo de sua mãe). Aproveitava o tempo visitando galerias artísticas e cafeteiras, conhecendo pessoas influentes da época, experimentando drogas, vivendo como um ser protético, com atitudes extravagantes e conflituosas que marcaram sua existência. Escrevia críticas, artigos para jornais e um livro de ficção, não sabendo ao certo se esta ocupação que motivou a tentativa de ingresso à Academia Francesa. Charles acreditava que o homem hodierno estava escravizado pelo tempo e a monotonia, não apreciando as pequenas coisas ao redor na natureza, somente correndo atrás de bens materiais. Além do julgamento ao sistema, de comandar e aprisionar a liberdade de escolha dos cidadãos, suas poesias ressaltam a angústia e crise de identidade do ser pós-moderno. Pouco tempo depois do lançamento de seu livro, Les Fleurs du Mal, na época de 1857, seis de seus escritos foram censurados pela quantidade de conteúdo explícito, como temas mórbidos e sexuais, atacados por Le Figaro, um jornal diário francês, e recolhidos sob acusação contra as boas tradições. Alguns colunistas chamavam suas artes de obras-primas apaixonantes, enquanto outros diziam que eram somente ações legais para suprimi-los. O autor teve que pagar uma multa e seus poemas tiveram que ser vetados, somente voltando à circulação em 1860 a sua segunda edição organizada sistematicamente. Seu intelecto e pensamento só foram reconhecidos após sua morte, em 1867, nos braços de sua mãe, por consequência de um grande acúmulo de doenças neurológicas.


"As Flores do Mal não contêm poemas nem lendas nem nada que tenha que ver com uma forma narrativa. Não há nelas nenhum discurso filosófico. A política está ausente por completo. As descrições, escassas, são sempre densas de significado. Mas no livro tudo é fascinação, música, sensualidade abstracta e poderosa."

╰Paul Valéry, filósofo e escritor francês.


"Neste livro atroz, pus todo o meu pensamento, todo o meu coração, toda a minha religião (travestida), todo o meu ódio."

╰Baudelaire, escrevendo sobre seu manuscrito.


Conclusão.


Bem, essa foi a minha desagregação geral em uma visão subjetiva e apresentação dos tópicos, com o intuito de fazer os membros da comunidade tirarem suas próprias opiniões sobre a adaptação e o primário. Caso não concordem com algum argumento, repetindo a sugestão na introdução, sintam-se à vontade para compartilhar suas perspectivas de Aku no Hana, tanto do mangá quanto do anime. Obrigada para os que leram até aqui.


"A juventude não foi mais que um temporal,

Aqui e ali por sóis ardentes trespassado;

As chuvas e os trovões causaram dano tal 

Que em meu pomar não resta um fruto sazonado."

╰Trecho de L'Ennemi, de Charles Baudelaire.


Informações.


  • Demografia: shounen;
  • Gêneros: drama, escolar, psicológico e romance;
  • Classificação: +16.


➛ Mangá.


  • Autor: Shūzō Oshimi;
  • Editora: Kodansha;
  • Período: 09/09/2009—09/05/2014;
  • Volumes: 11;
  • Capítulos: 58;
  • Nota no MAL: 8.21.


➛ Anime.


  • Direção: Hiroshi Nagahama;
  • Produção: Gou Nakanishi, Kensuke Tateishi e Tomoko Kawasaki;
  • Roteiro: Aki Itami;
  • Composição: Hideyuki Fukasawa;
  • Estúdio: Zexcs;
  • Período: 05/04/2013—29/06/2013;
  • Episódios: 13;
  • Nota no MAL: 7.21.

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