A fórmula do amadurecimento - Annarasumanara
Olá, meus caros. Hoje, trago-lhes um manhwa de cunho psicológico e muito bem classificado no MAL. Além desses atributos, essa obra traz um grande valor sentimental para minha pessoa por sua impactante mensagem motivacional, reflexiva e diferenciada entre os demais desse estilo. Essa recomendação é uma sugestão minha de um tremendo gosto, pois acredito nas riquezas das lições oferecidas e dos temas abordados, em especial aos jovens que estão se descobrindo profissionalmente ou possuem dúvidas sobre no que realmente focar: lucro ou felicidade.
A história parte da perspectiva de Yoon Ah-ee, uma adolescente no colegial com um grande peso de responsabilidade, após ser abandonada por seu pai, o qual fugiu pela quantidade de dívidas, e encarregada nos cuidados de sua irmã mais nova. Vivendo em uma residência humilde e acatando as cobranças familiares, Ah-ee trabalha constantemente enquanto ainda mantém as notas altas na escola, tudo com dificuldades e excedendo até seu limite físico. Certo dia, a jovem escuta em sua turma um rumor sobre um mágico perambulando nas áreas do parque de diversões abandonado e realizando pedidos inusitados, com a sua famigerada “magia”. Em sua volta para casa, Ah-ee, por uma coincidência, acaba indo ao parque e encontrando-se com o mágico dos boatos. Esse lhe oferece conhecer seus poderes de verdade, através de seus shows, e aos poucos nossa protagonista questiona-se mais sobre o que é realmente real.
Yoon Ah-ee.
Uma jovem menina trabalhadora e ambiciosa, a qual, infelizmente, arca com as consequências de sua família, residindo em uma casa pequena, não se alimentando adequadamente e laborando em ocupações de meio período. Mesmo nessas situações, Ah-ee mantém as boas notas na escola, permanecendo como a primeira da turma, sendo o fator que chama a atenção de Deung, inicialmente. Em sua primeira aparição, a protagonista aparenta ser determinada ao máximo para alcançar um sucesso profissional lucrativo, motivo de seus excelentes resultados nos testes, e desinteressada aos assuntos colocados por ela como fúteis, desde socializar entre os demais colegas até se importar com suas próprias vestimentas, as quais estão em estado deplorável e maltrapilho. Pelas circunstâncias ditas anteriormente, Ah-ee possui uma personalidade forte, destemida e cética, considerando sem importância tudo não relacionado a lucrar e receber bens materiais. Tanto que, em seu primeiro contato com o mágico, ela o considera louco e pensa o porquê deveria preocupar-se com assuntos sobre magia, algo totalmente abstrato e fora de seus objetivos concretos. Porém, no decorrer de seu relacionamento com Eul, Ah-ee começa a ver o verdadeiro significado dos “feitiços” ditos pelo misterioso homem.
Um adulto enigmático, autoproclamado como mágico, que vive em uma barraca no parque abandonado da cidade, na qual ele perambula e realiza truques para crianças e meninas do ensino médio, por razão de sua boa aparência. Eul, em todo o decorrer do enredo, comporta-se de maneira genuína e adorável, vendo beleza em pequenas coisas. O personagem age, no geral, como um verdadeiro Peter Pan, com sua mentalidade inocente e buscando comprovar a veracidade da magia. Seu comportamento é, literalmente, infantil, demonstrando até agressividade quando se enfurece e não tendo noção de seu tamanho. Inconsequente, porém, sempre possuindo as melhores das intenções para agradar os pequeninos e, principalmente, Ah-ee. Mais a fundo, Eul é um dos mais complexos do elenco, mostrando seu passado melancólico e o porquê de sua situação, tudo representado com muito esmero pelo autor.
Colega de classe de Ah-ee e, mesmo que pareça na primeira impressão um personagem secundário, sofre um tremendo aprofundamento psicológico, com seus conflitos, dúvidas e rótulos impostos pela própria família. Deung, pela própria aparência, é um dos que mais possui simbologias e elementos diferentes que o autor utiliza na obra. Desde seu enorme pescoço, o mesmo de seus pais, até sua casa representada por um gigantesco diamante no alto da pirâmide. Na II é um belo jovem, como dizem os demais personagens, e muito inteligente, com excelentes notas devido à cobrança constante dos exigentes pais. O rapaz, inicialmente, demonstra um interesse por Ah-ee pelo seu jeito reservado e cheio de incógnitas. Tal sentimento cresce genuinamente pela menina, até ao ponto de segui-la após a escola para buscar mais informações sobre o cotidiano da rapariga. Em seu “momento stalker”, Deung encontra com o tão famoso mágico e, mesmo com alguns conflitos iniciais, é cativado pelo excêntrico homem.
Traços.
Um dos principais aspectos dessa história é a sua distinção em sua arte, fazendo uso de cores e colagens de fotos e objetos reais, algo que sai totalmente dos traços característicos padrões nos demais webtoon/manhwa. Todos os seus minuciosos destaques, com um valor simbólico tangível para cada cena específica, é tão imersivo e gratificante. A leitura em si parece um conto de fadas, contando com figuras circenses hipnóticas e pigmentações chamativas, no geral, um uso extremo de uma aquarela de cores para passar com exatidão a emoção necessária para o cenário. Traz um ar mais "acriançado" e balanceia com a maturidade da obra, como se houvesse uma delicadeza robusta que permite um fácil e confortável acesso à leitura.
Gêneros.
A obra em si pode ser considerada a mistura de diversos estilos, ao que realmente sai do convencional, sendo possível considerar como os gêneros mais sobressalentes o "slice of life" e sobrenatural. Porém, aos poucos, isso é desmistificado e vemos com maior evidência o presente drama em todo o desalento na diária resignada de Ah-ee, com o intuito de comover o legente. O "coming of age" se mostra bastante aparente na evolução dos personagens para a vida adulta, literalmente, a maioridade. É muito destacado os diálogos sobre suas perspectivas nesse processo de mudanças, concentrando no estado psicológico e, suavemente, moral do elenco. Em sua maior parte, a trama é ambígua, mas não perdendo o fundamento na realidade, o qual se mantém presente retratando temas, como questões sociais, abusos de poder e as interferências prejudiciais dos pais no futuro dos filhos.
O que diverge esse manhwa dos outros? Essa pergunta costuma ser frequente aos que não conhecem a obra e só viram a sua boa nota no MAL. Mesmo que, por esse motivo, tenha despertado um interesse para ler futuramente, deixe-me dizer que essa obra é, simplesmente, especial. Começando pelos seus personagens: uma realista problemática, um elitista necessitando de autorreflexão e um mágico sonhador e misterioso, que parece não se encaixar com toda a realidade daquele universo. Só por esse trio a história já proporciona três perspectivas diferentes para repassar suas singelas particularidades e mensagens essenciais e aplicáveis no cotidiano de qualquer pessoa. Além de seus traços e utilizações de artes singulares, o que proporciona uma imensa submersão na leitura, Annarasumanara usufrui de mínimos e envolventes detalhes para transformar a história em algo puro e alternativo, em especial nas cartas da Ah-ee e as constantes flores para amenizar o cenário escurecido. Nos próximos tópicos, estão outros pontos motivacionais que agregam ainda mais o valor da leitura.
Um dos principais assuntos retratados é o que seria, verdadeiramente, tornar-se adulto. No início, o enredo parece meio melancolizado, porém, ameniza com o passar dos capítulos, sem muita filosofia, já que o bônus do manhwa é a sua narrativa direta e de fácil compreensão. Ah-ee e Deung mostram-se indecisos sobre o futuro, como qualquer adolescente, além de suas preocupações pessoais e os rótulos predefinidos para um caminho bem-sucedido. Literalmente, é possível visualizar a busca por autodescobrimento dos personagens, sendo notável seus erros, desejos egoístas, decisões com o único intuito de agradar os outros e seguir os sonhos que não os definem, podendo acarretar sérios arrependimentos para a vida. Às vezes, o leitor se identifica tanto com a história que sente como se as lições repassadas fossem diretamente a ele — principalmente se estiver na fase da juventude. A mensagem em si do manhwa é tão gratificante que concretizar os sonhos, mesmo que isso distorça os padrões da sociedade, é o que traz a plena satisfação pessoal do indivíduo. Além da busca por felicidade, o encontro com os obstáculos impostos e as constantes reflexões. Ao todo, a história é bem realista, principalmente no final, com sua pegada firme no "coming of age", denotando as passagens e problemas da protagonista, ademais com os outros principais.
A sinopse citando magia pode afastar alguns amantes rigorosos de uma leitura mais concreta, no entanto, já lhes aviso desde agora que a narrativa não foca no sobrenatural, puramente. No máximo, a dúvida sobre os poderes do mágico, algo que vocês só descobrirão lendo. A grande jogada dessa obra é sobressair o que é necessariamente mágico em nossos cotidianos, literalmente, “a magia da vida”, desde pequenos acontecimentos que tornam a rotina interessante até infortúnios passageiros. Cada instante transformado em breves recordações, com amor, presença, solidariedade, entre demais sentimentos. No geral, é notável a valorização no enredo pela simplicidade e o poder de identificação nos mínimos detalhes, não sendo essencial viver períodos extravagantes o tempo todo, mas mantendo a disposição e intensidade em experiências casuais que tornam algo simples em distinto. Eu não acredito em feitiços, mas creio que há existências verdadeiramente valiosas, chegando a um nível sobrenatural, como milagres, emoções incompreensíveis, momentos e pessoas especiais.
Opinião.
Sem muita pretensão, acabei pegando esse manhwa para ler e fiquei deveras impressionada com a profundidade da história. Um roteiro bem direto ao leitor, porém, ressaltando seu aspecto misterioso, genial e tocante em cada página, marcando assim qualquer um pela sua temática reconfortante e a lição sobre amadurecimento que é pregada. É nostálgico o sentimento que a história propaga, dos sonhos considerados bobos na infância sendo apagados e ridicularizados. Esperanças e vontades, verdadeiros objetivos ingênuos que brotavam como inspiração, desmerecidos por um olhar mais racional. Após aprender sobre a verdadeira e fria realidade, o lado criativo é reprimido para encaixar-se no molde já preparado de um cidadão normal posicionado no status aceitável.
Finalização.
Espero que tenham gostado da recomendação e, de alguma forma, sentido um desejo ou mínimo interesse em ler esta verdadeira obra de arte. Garanto que será uma experiência maravilhosa, única e diferente das demais desse formato. Uma leitura sutil, porém, carregada de atributos que levo comigo como boas lembranças e que, certamente, não esquecerei tão cedo. Uma obra que não responde todos os mistérios, mas ensina e proporciona reflexões, com seus personagens explorados e desenvolvidos, mais cativantes que um mangá de trezentos capítulos (não generalizando). Leiam Annarasumanara e terminem antes que o mágico possa tirar o coelho da cartola, pois esse manhwa prende até o capítulo final e satisfaz até o último instante.
Informações.
- Volumes: 3;
- Capítulos: 27;
- Status: completo;
- Publicação: 2/7/10—31/12/10;
- Autor: Ha Il-Kwon;
- Serialização: Naver Webtoon;
- Nota no MAL: 8.56.
Nenhum comentário: