[off] O vigilante de Gotham - Batman: O Cavaleiro das Trevas
Olá, meus caros. Trago-lhes uma recomendação especial de Batman: O Cavaleiro das Trevas, série escrita e ilustrada pelo aclamado Frank Miller, criador de duas das melhores histórias do Homem Morcego. Não estou sendo precipitada na afirmação anterior, já que a saga alcançou uma escala revolucionária no universo das comics com seu enredo distinto em comparação aos demais contos. Essa minissérie americana ganhou fama mundial e acabou trazendo uma nova visão sobre a indústria de quadrinhos da época, influenciando até na criação cinematográfica dos dias atuais. Uma verdadeira obra-prima narrativa que retrata a vida do vigilante de Gotham com puro amargor e abordando temas adultos, como situações de violência e sexo, além de críticas políticas.
A história parte dez anos após a aposentadoria do Batman, enlutado com a morte do segundo Robin, Jason Todd. Durante esse período, a cidade de Gotham está completamente sobrecarregada de crimes e atormentada por uma gangue abominável autodenominada "Os Mutantes", além dos heróis do mundo todo estarem extintos por lei, exceto o Superman, que atua como agente do governo americano, ou, melhor dizendo, uma arma de guerra. Com seu senso de justiça alarmando sem parar perante as constantes irregularidades de sua região e logo após um encontro dos membros da gangue no local onde sua família foi assasinada, Bruce Wayne decide voltar ao combate com seu manto negro. Mesmo em suas condições físicas de senhor, o homem angustiado utiliza artimanhas intelectuais e físicas para encarar de frente os malfeitores. Desse modo, decorrente de sua triunfante e inesperada volta ao batente, Batman levanta opiniões opostas na mídia e chama a atenção de admiradores, velhos arqui-inimigos, como o Coringa, e até do Superman, que fica responsável por vigiar as ações do protetor mascarado. A série se passa em um futuro alternativo do universo da editora, não sendo considerada definitiva. No decorrer das páginas, é mostrado outros personagens presentes na vivência do emblemático herói, como Harvey Dent, Selina Kyle e Jim Gordon.
Nessa saga, os personagens estão mais sondados, tendo uma plena análise de seus passados e motivações, fora seus conflitos internos para tomar decisões, contestando o que é moralmente aceitável a seguir, como o Superman e seu dever com a presidência. Essas incertezas e inseguranças trazem um brilho magnético ao elenco, principalmente no caso do protagonista. Batman, após permanecer ausente por dez anos, muda a sua imagem e sofre uma crise de meia-idade, já com seus cinquenta e cinco anos, precisando vestir roupas de salvador disfarçado para satisfazer seu senso de licitude e defender a tão problemática Gotham saturada. Bruce se comporta instável, violento, raivosamente, questionando seu próprio princípio de não matar e criando, aos poucos, uma nova versão de si. A aproximação tanto do personagem quanto do enredo da nossa veracidade é deveras impressionante. Há a aparição de outras diversas figuras inerentes ao universo do herói, como o Comissário Gordon em uma versão realística e aprofundada, com o mesmo critério furioso de ocasionar alguma mudança nos altos índices de criminalidade da cidade, na aparição de Carrie Kelly, uma moçoila que se autoproclama Robin para ajudar o Homem Morcego, como uma verdadeira simpatizante. A garota órfã, igual ao justiceiro, muda seu papel no decorrer da saga, mostrando uma boa representação feminina e causando um choque inicial ao público. Como dito antecipadamente, os antigos antagonistas do Batman também possuem presença na história, alguns não cumprindo literalmente essa função, mas sendo exibidos de forma enfadada, no declínio geral da loucura até o estado mais lastimável.
Traços.
Bem cartunizado, fazendo bom uso de traços grossos e marcantes, além da utilização de cores vibrantes, o artista conseguiu deixar sua assinatura não só pelo conto brilhante e ovacionado, mas também com sua arte diferenciada. Existem algumas críticas negativas provocadas pelo design de alguns personagens consideravelmente exagerados ao nível de caricatura. Ademais, Miller fez uso de vários artifícios visuais, truques inovadores que dividiam a página em muitos quadros para dar a impressão de movimento, além de oscilar no tamanho dos quadrados e fazendo uma montagem de eventos rápidos. As páginas chegam a ter o total de dezesseis painéis, com o Batman passando pela paisagem urbana, na hipótese de que o artista estivesse brincando sem se preocupar com limites de linhas.
Individualidade.
Pelos fatores já ditos previamente e mais os que citarei, com a tremenda recepção na cultura pop e influência no mercado editorial, Batman: Cavaleiro das Trevas está sobrecarregado de atributos que singularizam essa leitura das anteriores. Começando pela própria personalidade do personagem principal, que discute a integridade heróica, tenta justificar a violência e questiona seu papel de sentinela de Gotham. Além da fixação no universo da editora em inserir um contexto mais realístico, utilizando citações dos acontecimentos políticos durante aquele período. Frank Miller modificou a relação de Batman e Superman para rivais, sendo que, nos outros volumes, eram postos como amigos, ele originou jargões e tornou sua obra referência profissional. Sendo enaltecido até nos dias de hoje, o autor leva consigo Alan Moore, Todd McFarlane e Jim Lee, nomes tão rentáveis quanto seus heróis, ou, melhor dizendo, suas feituras.
→ Sua peculiaridade está até no formato de impressão, inaugurando o termo "prestige formal", com suas páginas em papel acentinado de gramatura alta.
A edição vendeu bem e promoveu a própria editora com a sua história de ação provocadora e inquietante, agradando os leitores céticos da época, após Miller elaborar e transparecer uma nova face para o protagonista. O quadrinho foi classificado pelo IGN Comics como o primeiro da lista das melhores graphic novels do Batman e escolhido pela Time, em 2005, como um dos melhores romances de arte visual em inglês já escritos. Além de ser colocado em segundo lugar em uma pesquisa de quadrinhos realizada pela Sequart Organization, também obteve o elogio do escritor britânico Matthew Manning, chamando a série de "a melhor história do Batman de todos os tempos". Mesmo com toda essa boa recepção, a edição também obteve críticas negativas. O jornalista Nicolas Slayton descreve que a cena de combate entre Batman e Superman como "forçada e incompatível com o clímax do roteiro", além de dizer que houve mau uso do personagem central (seria mais compreensível se ele afirmasse esses comentários para o filme B.vs.S. de 2016). Mordecai Richler, escritor canadense, relatou que o enredo é complicado, difícil de acompanhar, com personagens excessivamente musculosos e, se fosse destinado às crianças, não agradaria esse público. No Brasil, a obra perdeu as capas originais por causa da Editora Abril, que considerou inapropriado para os leitores infantis, mesmo que a série tenha uma temática sazonada. A minissérie obteve muito sucesso, estampando em famigerados jornais e, diante disso, fazendo a Abril voltar atrás em sua escolha, até estrear um artigo focado somente em quadrinhos adultos. Cavaleiro das Trevas teve uma importância no mercado editorial do país e, desde então, obteve cinco formatos.
Anteriormente à saga, não existe história em quadrinhos na DC que veio sem obter uma influência notória da edição de 1986, tanto nos filmes e desenhos quanto nos videogames. A imensa popularidade fez o personagem Batman ser um astro da cultura pop, iniciando a Era Modena, também chamada de "Dark Age of Comics". Durante esse período, com o Estados Unidos passando por uma fase tenebrosa, houve a formação de diversos heróis com características violentas, assombrosas e complexas, que, de um modo geral, só tornavam a narrativa mais atraente aos leitores. Assim, esse novo modelo de heróis começou a ser comercialmente bem-sucedido, atendendo por completo a generalização dessa tendência, por mais que nem todas as obras fossem da mesma qualidade da edição pioneira. Juntamente com Watchmen, Cavaleiro das Trevas elevou o universo do quadrinhos a uma maturidade literária, distanciando-se do público infantil, e ainda inspirou o design Vincent Connare a criar a fonte Comic Sans. A leitura em si trouxe diversas críticas, como dito anteriormente, ocasionadas pela sua trama adulta, porém, trazendo uma motivação maior das empresas de quadrinho em investirem nesse tipo de conteúdo alternativo. Houve a remodelação de personagens, aprofundamento de seus psicológicos e ambições, tendo uma tridimensionalidade no enredo. Livros afamados surgiram logo após, como Asilo Arkham e Sandman, e até mesmo os escritores tiveram uma ascensão na carreira, como o próprio Frank Miller, que se tornou diretor de cinema. Ademais, há diversas citações da obra em outras mídias, como no cinema e na televisão. Por exemplo, no filme Batman vs Superman: A Origem da Justiça, podemos ver uma clara referência no confronto entre os dois heróis (tirando a parte da "Marta!").
→ Há também os filmes animados que são uma adaptação fiel com o mesmo nome da HQ. Ainda estão em lançamento e são tão aconselháveis quanto à leitura.
Cronologia.
➲ Volume 1.
Batman: The Dark Knight Returns.
➤ Livro um: The Dark Knight Returns;
➤ Livro dois: Dark Knight Triumphant;
➤ Livro três: Hunt the Dark Knight;
➤ Livro quatro: The Dark Knight Falls.
➲ Volume 2.
The Dark Knight Strikes Again.
- Edições: 3;
- Status: finalizado;
- Publicação: dezembro de 2001—julho de 2002;
- Autor: Frank Miller;
- Artista: Frank Miller.
Com seu exército de "Batboys" e sua companheira Catgirl, após adentrar no subsolo, Batman tem como objetivo salvar o mundo de uma verdadeira ditadura policial arquitetada e liderada por Lex Luthor. Explorando as instalações secretas governamentais, os ajudantes do cavaleiro das trevas libertam outros super-heróis mantidos em cativeiro, sendo alguns literalmente escravizados e tendo seus poderes extraídos covardemente, como: Flash, Atom e Plastic Man. Já com a colaboração do Green Arrow, Batman precisa lidar com Superman, Shazam e Wonder Woman, obrigados a trabalhar para o governo devido às constantes ameaças aos seus familiares feitos de prisioneiros. Assim, controlado pelo Presidente Rickard, o Homem de Aço precisa confrontar o grupo de rebeldes mais os heróis fugitivos. Nessa aventura inesquecível, acontecem diversos eventos simultâneos, como o Batman destinado a contrapor a regência opressora, fazendo uma manifestação política em prol dos defensores esquecidos, e, além de tudo, todos reagindo à estranha aparição de um monstro alienígena que desembarca em Metropolis. Obs.: disponível o compilado dos volumes um e dois na edição definitiva Batman: O Cavaleiro das Trevas.
➲ Volume 3.
Dark Knight III: The Master Race.
- Edições: 9;
- Status: finalizado;
- Publicação: novembro de 2015—junho de 2017;
- Autores: Frank Miller e Brian Azzarello;
- Artistas: Frank Miller, Andy Kubert e Klaus Janson.
Sinopse com spoilers do volume dois para melhor compreensão dos leitores.
Após três anos, Bruce Wayne não foi visto desde as mortes de Lex Luthor e Dick Grayson, entretanto, as ruas de Gotham voltaram a contar, repentinamente, com a presença do Batman na perseguição de suspeitos. Enquanto isso, a Comissária Ellen Yindel pondera os comentários sobre o retorno do Homem Morcego, sendo o assunto do momento na mídia. Durante o recluso de Superman, em sua fortaleza de gelo, sua filha Lara questiona sobre as heranças de sua origem, abrindo assim uma brecha para o enredo apresentar o mais novo perigo devastador do planeta: os Kryptonianos. No segundo volume foi revelado que a população de Kandor, capital do planeta Krypton, mantém-se encolhida e confinada pelo controle de Brainiac. Depois de derrotar o tirano, a pequena civilização mostra estar indignada com seu tamanho atual, porém, a cidade não pode aumentar, já que o raio redutor perde gradativamente seus efeitos e ainda, para piorar, de acordo com um índice subatômico, Kandor pode autodestruir-se caso continue minimizada. A partir do terceiro volume, tudo muda quando Lara resolve pedir ajuda para restaurar a dimensão original da minúscula metrópole.
→ Frank Miller diz estar trabalhando em um quarto volume.
Opinião.
Sinceramente, essa saga é a minha predileta em todo universo da DC. A imensidão no psique dos personagens, a ambientação exótica e a narrativa frenética só trazem uma leitura confortável e memorável. Além das sutis críticas sociais inseridas na obra, para uma compreensão pessoal do público, já que, como dito, existe uma colocação política do autor. Posso citar exemplos, como: a situação de Gotham era uma alusão ao triste estado de Nova York na época e a utilização do Superman como arma de guerra no período de Guerra Fria com a União Soviética. Tudo isso traz uma aproximação com a vida real e um entendimento mais palpável ao público, mesmo com desaprovações dos comentaristas. Os defeitos são disseminados na história, porém, identificáveis e compreensíveis ao legente, possibilitando a submersão no script. Concluindo, a sua tese e estilo me agradaram completamente. O mundo que é arquitetado, o cenário em que o governo e a mídia se manifestam em relação aos heróis e a crise interna tanto do Batman quanto do Superman são miríficos. Frank Miller colocou literalmente a sua magnificência técnica na obra, não tendo limites para satisfazer-se plenamente em criar algo distinto com características de sua personalidade e gosto pessoal.
Finalização.
Bem, queridos leitores, essa foi a minha recomendação de HQ. Espero que tenham gostado, a experiência dessa obra é significativamente marcante para todos de acordo com a idade e satisfaz um público tanto eclético quanto seletivo. Então, até para os que não se aventuram nas leituras de quadrinhos americanos, indico fortemente esse maravilhoso exemplar. Só para vocês terem uma noção da comoção dessa graphic novel no universo dos comics, tive o zelo de colocar suas importâncias para a época. Anseio que leiam e, se possível, deixem seu feedback, que traz uma imensa satisfação para a minha pessoa. As quatro edições estão acessíveis em sebos ou na internet, em lojas virtuais ou disponíveis para download.
Informações.
- Título original: The Dark Knight Returns;
- Edições: 4;
- Status: finalizado;
- Publicação: fevereiro—junho de 1986;
- Gêneros: super-herói e pós-apocalíptico;
- Autor: Frank Miller;
- Artista: Frank Miller;
- Editora: DC Comics.
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