Compilação robótica - Robot Carnival


Olá, meus caros. Hoje, trago-lhes algo fora do convencional, a recomendação de uma analogia originada do Japão na década de 80, constituída de pequenos curtas-metragens independentes, todos possuindo um diferencial bem notório. A temática unificadora da obra envolve robôs e as suas relações com a sociedade humana, na perspectiva criativa da época. Sem mais delongas, tenham uma boa leitura.


Sinopse.


Robot Carnival, um peculiar compilado de curtas que, no geral, realça a individualidade de cada um dos nove melhores animadores japoneses escolhidos para participar desse projeto, variando no procedimento de animação e gêneros das histórias, havendo enredos superficiais além de introspectivos. O resultado completo da diversificação de segmentos é um OVA eclético e agradável de assistir, podendo saciar facilmente o espectador pela sua mudança de tom, aparência e estilo de narração em um grau alarmante, sem exageros da minha parte. Literalmente, um "Carnaval de Robôs", a obra apresenta múltiplas correlações entre os humanos e a tecnologia, de maneira abrangente, com decorrências de um criador até a crise existencial de sua criatura, tudo em torno do contexto da robótica.



Contos.

● Abertura e encerramento.


No início e no fim da obra, o público é abordado por uma incrível animação, com foco principal no slogan do OVA, representado por uma enorme engenhoca estupenda, tudo com o renomado brilhantismo de Katsuhiro Otomo, na direção, e Atsuko Fukushima, responsável pelo design dos personagens/animação. As duas partes são excêntricas, resumidamente, na apresentação de uma gigantesca máquina carregando o carnaval de robôs no deserto e destruindo tudo ao seu redor, com um leve humor negro e sátiro envolvendo os cidadãos locais. Confuso? Sim, porém, concordo que é algo esdrúxulo e instigando, dessa forma, o desejo de continuar assistindo.


● Franken's Gears.


No primeiro curta oficial do OVA, dirigido por Koji Morimoto, é possível reparar a clara referência ao clássico conto de Frankenstein, com um cientista aloprado querendo dar vida à sua criação, obviamente, um robô. Ele é bem sucedido em seu objetivo, entretanto, quando a maquinaria toma vida e começa a copiar seus gestos, uma infame tragédia ocorre. Ao todo, o conto é simplório, pequeníssimo e sem diálogos, fazendo uso somente da essência visual/sonora da história. É compreensivo todos os acontecimentos nos breves minutos da animação de qualidade, com uma ótima iluminação, design próximo do steampunk e os efeitos robóticos bem executados.


● Deprive.


Em um cenário mais agitado, envolvendo amor, robôs e lutas, Hidetoshi Oomori traz uma narrativa essencialmente retrô, com o ciborgue tentando salvar a moçoila indefensa do vilão, dando realce os constantes feixes de luz, semblantes exagerados e as contagiantes músicas dos anos 80. Seguindo um padrão conhecido e, de certa forma, clássico, o curta consegue passar bons e divertidos momentos, sem a necessidade de um diálogo, como o caso anterior. Com as boas doses de ação, a contextualização robótica fica por conta do visual e cumpre seu papel de condição eficaz.


● Presence.


Logo após uma entusiasmante aventura, dá-se início ao mais dramático dos curtas, possivelmente. Relatando a relação amorosa de um humano e uma robô, seguido de sua crise existencial focado, puramente, no porquê de sua criação ou permanência naquele estado, sem poder estar ao lado de seu amado, ressaltando questões filosóficas. Na direção de Yasuomi Umetsu, a história conta sobre um rapaz insatisfeito com a personalidade da esposa e que, secretamente, mantém uma adorável robô em seu armazém para satisfazer seu desejo por uma companhia mais feminina. Porém, tudo muda quando a "boneca" assume uma identidade própria e questiona o comportamento indiferente do homem. Uma animação adorável e serena, repassando um clima vintage delicado e uma ambientação europeia à obra, além da narrativa sentimental, explorando um tipo de relacionamento mais introspectivo e envolvente com a tecnologia. Com seu ritmo lento e propenso a imergir o espectador naquela situação emocional, não é precipitado dizer que esse é um dos curtas mais relevantes do OVA.


● Starlight Angel.


Em um clima amistoso, o público é automaticamente transportado para um cenário de parque de diversões e a protagonização inicial de duas belas garotas, aparentemente, amigas. A situação muda quando uma das meninas vê seu amado namorando a colega. Assim, a jovem corre desnorteadamente e entra em uma realidade virtual para se distrair, seguida por um robô que se mostra interessado na rapariga. De Hiroyuki Kitazume, famoso pelo trabalho em Gundam, o curta não tem diálogo e é o mais próximo das animações japoneses atuais, com seus paradigmas e clichês pioneiros da época. Um roteiro bonito e rodeado de amor adolescente, além das lutas de mechas gigantes que aparecem como um brinde naquela animação surreal e rica em detalhes, tendo um ressalte na açucarada trilha sonora pop nas batalhas.


● Cloud


Considerado o mais excêntrico dos curtas por sua técnica de animação distinta, como se fosse desenhado manualmente com algum lápis, o enredo passa a trajetória de um robô até tornar-se um humano de verdade, semelhante ao conto Pinóquio. Em seu caminho aparece diversas imagens formadas pelas nuvens, sendo completamente abstratas e com interpretações subjetivas, mas não deixando de ser um deslumbre visual. O criador foi Mao Lamdo, conhecido pelos seus trabalhos como Gen Pés Descalços e Roujin Z.



● Strange Tales of Meiji Machine Culture: Westerner's Invasion.


Mudado depois o título para A Tale of Two Robots, Chapter 3: Foreign Invasion, conta a história divertida de um combate entre robôs gigantes. Resumidamente, um invasor estrangeiro aparece em uma vila japonesa com sede de destruição e montado em sua grandíssima maquinaria. Logo em seguida, aparece um grupo de jovens no local querendo enfrentá-lo de igual para igual, dando início ao confronto. É um episódio cômico, abrangendo ironicamente os dois lados, de diferentes nacionalidades, com muito humor e esteriótipos. A dublagem é engraçada e os adolescentes são carismáticos o suficiente para manter uma própria série separada. Hiroyuki Kitakubo inseriu na animação uma sutil crítica para alfinetar os inimigos durante o período de Segunda Guerra Mundial, além da utilização retrógrada tanto nos combustíveis quantos no manuseamento dos robôs disponíveis para a época.


● Chicken Man and Red Neck.


Também conhecido como Nightmare, é o último curta da série, apresentando uma Tóquio destruída, dominada por robôs amedrontadores que ganharam vida e, nesse cenário caótico, o único humano, um bebaço montado em sua motoneta fugindo do amontoado de máquinas. Dirigido por Takashi Nakamura, o episódio teve inspiração em outro curta do filme Fantasia, da Disney. A ambientação é meio macabra, lembrando até um cenário pós-apocalíptico, mas a inserção da figura cômica do protagonista alivia a tensão e traz um bom desfecho para o OVA.


Análise geral.


Ao todo, a ambientação é excelente, abordando múltiplas modalidades e envolvendo a temática robótica, mas trazendo um ângulo diferente dependendo do diretor responsável pelo curta. Com a inovação sempre presente, é notável o verdadeiro deleite para o espectador, assistindo tal antologia que oferece algo distinto e recheado de talento. Há também variadas referências incutidas pela obra, como a influência de Brian Aldiss e Issac Asimov, considerado o mestre da ficção científica e que delineava uma visão mais aprazível às máquinas. Além das criações de Arthur C. Clarke, autor de obras renomadas, como: "2001: Uma Odisséia no Espaço", que foram outros mecanismos para inspirar os contos do filme. É admirável a feitura na trilha sonora, composta por Joe Hisaishi, conhecido por seus trabalhos em Nausicaä do Vale do Vento, A Viagem de Chihiro, Vidas ao Vento e diversos outros do estúdio Ghibli. A música consegue exercer perfeitamente seu papel, já que é de extrema importância nos episódios com ausência de diálogos, logo, a maioria. Robot Carnival é completamente raro, por ser um simples projeto que os animadores em ascensão resolveram fazer sem se preocupar, exclusivamente, com a renda final. Basicamente, é um milagre montado por diversão e esmero dos criadores, com animação fluída e assinaturas subliminares dos próprios diretores. O OVA também deu início às carreiras na direção de seus colaboradores, como Katsuhiro Otomo e a obra Akira.


Opinião.


Uma obra-prima brilhante que aterroriza os animadores de outros países pela sua singularidade em representar a visão da tecnologia na década de 80. É nostálgico e gostoso assistir aquele clima retrô, recordando até mesmo "De Volta Para o Futuro 3", com toda aquela essência futurística idealizada no período. Alguns episódios admito serem mais medíocres e simples que outros, porém, cada um com sua particularidade latente que traz um experimentação exótica ao público, mesmo tendo um tempo de exibição limitado. Cenários esplendorosos e a pluralidade de artifício artísticos, compõe essa obra que vale a pena ser apreciada.


Finalização.


Bem, essa foi a minha recomendação de Robot Carnival. Eu considero essa obra facilmente como um "brainstorming" animado, por encaixar-se no sentido literal de "tempestade de ideias" e ser o desafio de explorar a potência criativa dos animadores, mesmo não tendo um problema concreto para resolver (é somente uma comparação). Espero que esse blogue tenha criado o mínimo interesse em vocês, pois garanto que será algo diferente do padrão, afinal, sempre é bom inovar, como os diretores citados anteriormente. Caso queriam assistir, o site Malkav Animes disponibiliza o download de forma confiável.


Informações.


  • Tipo: OVA;
  • Episódios: 9 em 1;
  • Duração: 1 hora e meia;
  • Lançamento: 21/09/1987;
  • Gêneros: ação, romance, drama, fantasia e ficção científica;
  • Diretores: Hidetoshi Oomori, Hiroyuki Kitakubo, Hiroyuki Kitazume, Katsuhiro Otomo, Koji Morimoto, Mao Lamdo, Takashi Nakamura e Yasuomi Umetsu;
  • Estúdio: A.P.P.P. (Golden Boy, Gantz, Roujin Z, etc).

2 comentários:

  1. Bom blog. Funciona mais como uma recomendação mesmo, então acho que deveria ter lido antes k. Mesmo assim você trouxe uma boa perspectiva sobre cada um dos contos, foi legal ler.

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